quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Nazis de turbante e outros 10 episódios menos conhecidos da II Guerra Mundial


O Marechal Rommel passa em revista soldados da Legião Indiana destacados para a defesa da Muralha do Atlântico.

José Carlos Fernandes
A 15 de Agosto de 1945, com a rendição do Japão, terminava a II Guerra Mundial. Apesar de o conflito ter sido narrado em incontáveis filmes e livros, continua a ter episódios obscuros.

Embora o imperador Hirohito tenha anunciado a rendição do seu país, através da rádio, a 15 de Agosto, o acto formal de rendição do Japão, que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, só seria assinado pelo ministro japonês dos Negócios Estrangeiros na manhã de 2 de Setembro de 1945, a bordo do couraçado Missouri.
Uma vez que a guerra começara na madrugada de 1 de setembro de 1939, quando os Panzer alemães cruzaram a fronteira da Polônia, acabou por perfazer seis anos e um dia. Esteve longe de ser a guerra mais longa da história, mas foi a que envolveu mais pessoas e a que se estendeu a mais pontos do globo. Os principais beligerantes consagraram a ela uma fração nunca vista dos seus recursos humanos, materiais e financeiros – por isso, foi também a mais devastadora e mortífera de sempre.
Por envolver tanta gente de tão variadas proveniências e decorrer em lugares tão diversos, há sempre recantos que ficam pouco iluminados quando se conta a história deste conflito. Eis alguns deles.

1. Nazis de turbante

A imagem clássica dos soldados das SS associa-lhes um perfil irrepreensivelmente ariano, com olhos azuis e cabelo louro, mas essa conceção é frontalmente desmentida pela Indische Legion (Legião Indiana, também conhecida por Legião Tigre), uma unidade das SS formada apenas por indianos, reunindo estudantes que se encontravam em território alemão quando da eclosão da guerra e soldados que lutavam nas forças da Commonwealth no Norte de África e foram capturados pelo Afrika Korps.
Por trás da Indische Legion está a improvável figura de Subhas Chandra Bose (1897-1945), um líder independentista indiano, que foi presidente do Congresso Nacional Indiano e viu nas convulsões da II Guerra Mundial uma oportunidade para a Índia se libertar do jugo britânico. Em 1940, as atividades pró-independência de Bose tinham levado a que os britânicos o tivessem colocado em prisão domiciliária (não era a primeira vez), mas ele evadiu-se e conseguiu chegar a Moscovo no início de 1940. Não tendo conseguido aliciar os soviéticos para a causa da independência indiana, Bose dirigiu-se a Berlim, onde alimentou o sonho de constituir um exército que, investindo pelo Norte de África, na companhia do Afrika Korps, atravessaria o Próximo e Médio Oriente e iria libertar a Índia.
Porém, os efetivos da Legião Indiana nunca ultrapassaram os 2600 elementos e Bose, desiludido com o escasso apoio alemão, tomou um submarino até Singapura, onde procurou aliciar os japoneses para o seu projeto. Teve mais sucesso do que na Europa, pois conseguiu reunir um exército de 85.000 soldados entre os prisioneiros de guerra indianos capturados pelos japoneses.
Entretanto, na Europa, a Legião Indiana, que estivera estacionada na costa sudoeste de França, perto de Bordéus, foi integrada nas SS após o desembarque da Normandia e lutou em França e na Itália.


Balão incendiário japonês, 1945

2. Balões pouco festivos

O ataque ao World Trade Center em 2001 deixou os EUA em estado de choque não só devido ao caráter brutal, espetacular e inesperado do atentado como ao facto de, apesar de o país ter estado envolvido em incontáveis conflitos, o território continental dos EUA nunca ter sido atacado. O mais perto que esteve de sofrer ataques foi durante a II Guerra Mundial, mas nem alemães nem japoneses o lograram.
O Japão tentou-o a partir do final de 1944, através de um método low-cost: soltar balões de hidrogénio munidos de bombas incendiárias que, impelidos pelos ventos de oeste dominantes sobre o Pacífico (jet stream), acabariam por cair algures em território americano.
A estratégia era sintomática do desespero que tomava então conta dos japoneses e revelou-se muito pouco eficaz: dos mais de 9000 balões soltados, apenas 300 foram registados como tendo atingido o território dos EUA (alguns chegaram tão longe quanto o Nebraska, o Kansas ou o Iowa, bem no centro dos EUA) e os estragos por eles causados foram mínimos. As únicas vítimas a lamentar ocorreram a 5 de Maio de 1945, numa floresta do Oregon: uma professora de catequese e cinco alunos, que se encontravam a fazer um piquenique.
Todos os outros ataques japoneses a solo continental americano, lançados a partir de submarinos (e, num caso, de um hidroavião transportado por um submarino) produziram danos irrisórios e nenhuma vítima.

3. Bombas sobre Manhattan
Pelo lado alemão, o ataque ao território americano alimentou vários planos fantasiosos mas não produziu nenhum resultado prático. Hitler ainda pensou em usar os Açores como base para bombardeiros de longo curso visando os EUA, o que requereria que Salazar o autorizasse ou que os Açores fossem ocupados (algo completamente improvável, dada a disparidade de forças entre as marinhas alemã e britânica).
No âmbito do projeto Amerika-Bomber, vários fabricantes aeronáuticos tentaram desenvolver, a partir de 1943, um bombardeiro de longo curso capaz de atingir os EUA, mas o Focke-Wulf Ta-400, o Heinkel He-277, o Junkers Ju-390 e o Messerschmitt Me-264 nunca passaram da fase de protótipo (ou nem saíram da mesa de desenho) e não conheceram uso operacional.

Uma das várias e infrutíferas experiências da Luftwaffe com um avião às cavalitas de outro

O projecto Huckepak (cavalitas) era mais artificioso, embora tivesse a vantagem de recorrer a aviões já existentes: previa que um bombardeiro pesado Heinkel He-177 carregasse sobre o dorso um bombardeiro médio Dornier Do-17. Chegado ao limite do raio de ação, o Heinkel largaria o Dornier e este voaria até aos EUA, numa viagem sem regresso: após largar as bombas o avião amararia e os tripulantes seriam recolhidos por um submarino. O projeto foi abandonado em 1942.

4. Jogando às charadas

A decifração das mensagens secretas alemãs recorrendo às máquinas de rotores Enigma teve um papel decisivo no curso da guerra e a informação que daí resultou – a que os britânicos deram o nome de Ultra – permitiu aos britânicos assestar rudes golpes no poderio alemão, nomeadamente na Batalha do Atlântico.

Uma máquina de cifra Enigma, 1943

A decifração é geralmente apresentada como sendo um triunfo britânico, e em particular dos geniais criptógrafos de Bletchley Park. O recente filme The Imitation Game (O Jogo da Imitação), de 2014, realizado por Morten Tyldum e com Benedict Cumberbatch no papel de Alan Turing, o principal cérebro da equipa de Bletchley Park, veio reforçar essa imagem pública.
É verdade que Turing e o restante pessoal da GC&CS (Government Code and Cypher School) tiveram um papel fulcral, mas quem primeiro quebrou o código das máquinas Enigma, em 1939, foram três criptógrafos dos serviços de informações polacos: Marian Rejewski, Jerzy Rózycki e Henryk Zygalski. As descobertas deste trio foram comunicadas aos serviços de informações britânicos e franceses em 1939 e serviram de base ao trabalho dos criptógrafos de Bletchley Park.
Os alemães foram sofisticando a máquina, através da adição de rotores, e mudaram várias vezes os códigos, o que quer dizer que Turing e o GC&CS não se limitaram a aplicar a descoberta pioneira dos polacos e tiveram que dar muito trato às meninges para quebrar os códigos.
Os polacos também foram pioneiros na divulgação através do cinema do contributo de Rejewski, Rózycki e Zygalski (Sekret Enigmy, 1979), mas é claro que, para o imaginário de massas, a narrativa contada em The Imitation Game é que prevalecerá.

5. Informação privilegiada

Quase tão importante como a Ultra, ainda que bem menos conhecido, foi o projeto norte-americano Magic, que conseguiu a decifração do Purple, o nome dado pelos americanos ao código diplomático japonês, que recorria a uma variante das máquinas Enigma alemãs, e de vários códigos militares japoneses, sobretudo o JN-25, um código de alta segurança usado na maioria das comunicações da Armada Imperial. A informação proveniente do JN-25 alertou os americanos para o ataque japonês a Midway, em junho de 1942, e foi crucial para a vitória americana nesta batalha que marcou a mudança de rumo na guerra.


Almirante Isoroku Yamamoto
Em abril de 1943, outra intercepção de informação revelou os detalhes (locais, horários e aviões usados) de uma visita às bases japonesas nas ilhas Salomão pelo Almirante Isoroku Yamamoto. Yamamoto era não só o comandante da principal frota japonesa como tinha sido o estratega do ataque a Pearl Harbor – daí o nome “Vengeance” atribuído à operação montada para o eliminar.
A 18 de abril, partiu de Guadalcanal uma esquadrilha de caças de longo raio de acção P-38 Lightning, que fez parte do percurso a rasar o mar, para evitar a deteção pelo radar. Os caças, operando no limite das reservas de combustível, encontraram os dois aviões de transporte e a escolta de seis caças Zero sobre a ilha de Bougainville, na rota e hora previstas, e fizeram o avião de Yamamoto despenhar-se na selva. Para que os japoneses não suspeitassem de que os seus códigos tinham sido quebrados, os americanos difundiram a versão de que Yamamoto fora reconhecido por informadores nas ilhas Salomão, que teriam alertado as forças americanas.
Após a morte de Yamamoto, as forças navais japonesas não voltaram a averbar uma vitória nos embates com os Aliados.

6. A guerra nos trópicos


Soldados da Força Expedicionária Brasileira saudados pela população de Massarosa, Itália, Setembro de 1944

O Estado-Maior japonês não terá, provavelmente, dado grande importância ao facto de a Costa Rica ter declarado guerra ao Japão a 8 de dezembro de 1941. E Hitler talvez não tenha ficado muito incomodado com a declaração de guerra do Brasil, a 22 de Setembro de 1942, até porque por essa altura tinha os olhos fixados num ponto muito longe do Rio de Janeiro: em Stalingrado. Mas estas declarações de guerra mostram que a II Guerra Mundial foi mais “mundial” do que habitualmente se pensa.
Os brasileiros desempenharam papel mais ativo do que a Costa Rica, participando na luta contra os submarinos alemães no Atlântico e enviando uma força expedicionária de 25.000 homens para Itália.
Em 1943, a Colômbia e a Bolívia seguiram os passos do Brasil, mas o resto do continente sul-americano foi mais calculista: as declarações de guerra à Alemanha só surgiram quando os tanques soviéticos estavam às portas de Berlim. A declaração de guerra da Argentina, a 27 de março de 1945, deve mesmo ser vista com muitas reservas, já que o país se tornou, no pós-guerra, num refúgio para muitos figurões nazis com a cabeça a prémio.

7. Uma quinta na Ucrânia


Quintas-modelo, rapazes louros, proles numerosas:a Nova Arcádia de Leste, segundo Hitler e Himmler

Nos seus sonhos megalómanos, Hitler traçou planos para todos os países e povos do mundo – com exceção da Ásia a leste do Rio Yenisei e da Oceania, que seriam para os aliados japoneses.
Uma das regiões que lhe mereceu maior atenção foi o território que hoje corresponde à Ucrânia, Bielorrússia e estados bálticos, que veria a sua população dizimada pela fome (um processo mais económico do que os fuzilamentos) ou deportada para a Sibéria. Deixar-se-ia apenas um número suficiente de eslavos para servirem de escravos aos soldados-camponeses (Wehrbauer) das SS.
Nesta Utopia bucólica de inspiração pseudo-medieval, após 12 anos de serviço militar, incluindo dois anos de formação na área da agricultura, cada soldado receberia uma quinta de cerca de 120 hectares. Estes colonos teriam, de acordo com Himmler, “a nobre e crucial missão de proteger o mundo ocidental contra as hordas asiáticas”. Os planos envolviam a remoção de 30 milhões de eslavos deste território e a instalação de 10 milhões de alemães.
Considerando a vastidão do território, Hitler admitiu que nalguns casos poderia recorrer-se a sangue alemão importado: por exemplo para a Crimeia, que seria convertida numa Riviera alemã, os “indígenas” seriam deportados para o Brasil e, em troca, a península receberia germano-descendentes vindos do estado brasileiro de Santa Catarina. A ideia é descabelada mas tem um fundo histórico: em 1763, Catarina I da Rússia convidara emigrantes alemães a instalarem-se no país, mas em 1871 o czar Alexandre II revogou-lhes os privilégios, o que levou muitos a emigrarem para os estados de Santa Catarina (que já tinha migração alemã desde 1828) e do Rio Grande do Sul.

8. Com a ajuda de Lenin e Stalin


Encontro entre cruzador-auxiliar e submarino da marinha alemã

Stalin costuma ser censurado pelo pacto de não-agressão contra natura que assinou em 1939 com Hitler e deixou este de mãos livres para se lançar sobre a Polónia e o resto da Europa. Porém, o relacionamento entre a Alemanha e a URSS em 1939-41 foi muito além da “não-agressão”: a primeira forneceu à segunda uma colossal quantidade de matérias-primas e produtos agrícolas, indispensáveis ao esforço de guerra alemão, e até deu uma mão em operações militares, como seja o raid do Komet.
O Komet era um cruzador auxiliar, um eufemismo alemão para uma forma de guerra naval afim da pirataria. A Kriegsmarine teve em ação nove destes navios mercantes armados que navegavam sob bandeira e nome falso e tinham por missão afundar ou apresar, à má-fé, navios mercantes aliados.
Como as águas do Atlântico eram intensamente patrulhadas pela Royal Navy, a marinha alemã achou mais prudente enviar o Komet para o Pacífico através da mais improvável das rotas: a Passagem Nordeste, ao longo da costa norte da Sibéria e entrando no Pacífico pelo Estreito de Bering. A missão do Komet seria colocar minas junto à Austrália e atacar a navegação no Pacífico.
Para abrir passagem para o Komet através dos mares de Barents, Kara, Laptev e da Sibéria Oriental, a URSS pôs à disposição dois quebra-gelos, o Lenin e o Stalin – na fase final da viagem, seria escoltado por um terceiro quebra-gelos, o Kaganovich, mas o gelo não se revelou suficientemente espesso para requerer a intervenção deste.
A viagem teve vários contratempos, mas a 2 de setembro de 1940 o Komet tinha pela sua frente águas livres de gelo, pelo que dispensou o Kaganovich e seguiu viagem sozinho – três dias depois cruzava o Estreito de Bering e começava a busca por vítimas incautas. Afundaria sete navios e apresaria um, num cômputo total de 52.130 toneladas. Mas o auxílio dos quebra-gelos soviéticos não foi desinteressado: o III Reich terá pago 950.000 marcos pelo serviço.

9. Não há pior cego do que quem não quer ver


Tropas alemãs avançam em território soviético, Junho de 1941

Na madrugada de 22 de Junho de 1941, as forças do Eixo lançaram-se ao ataque da URSS, num ataque devastador, que apanhou as tropas soviéticas desprevenidas mas que nada teve de inesperado: Stalin recebera inúmeros avisos, de diversas fontes, sobre a invasão alemã – a operação Barbarossa – e rejeitara-os a todos.
Embora Hitler tivesse anunciado incontáveis vezes em público a sua determinação em erradicar o bolchevismo e conquistar “espaço vital” a Leste, Stalin parecera dar por sincero e válido o pacto de não-agressão assinado em 1939 por Molotov e Ribbentrop, o que é tanto mais espantoso dado o caráter desconfiado, paranoico e maquiavélico de Stalin.
Para mais, não havia técnicas de camuflagem nem manhas de dissimulação que pudessem ocultar a colossal concentração de 3,6 milhões de homens, 600.000 cavalos e milhares de tanques ao longo da fronteira – estas movimentações eram, aliás, motivo de conversa por toda a Europa de Leste.
Por outro lado, os voos de reconhecimento alemães sobre território soviético tinham-se multiplicado (os soviéticos detetaram 39 só na véspera do ataque). Na verdade, os serviços de informações britânicos tinham tido conhecimento da operação Barbarossa logo em agosto de 1940, uma semana depois de os planos terem sido aprovados, e tinham alertado o Kremlin.
As informações vindas dos espiões soviéticos em Berlim e Tóquio (incluindo as do famoso Richard Sorge) e da embaixada soviética em Berlim (que obteve um livro com frases básicas em russo para distribuir aos soldados invasores) foram ignoradas. Quando o Comissário do Povo para a Defesa do Estado lhe fez chegar mais um relatório que advertia para a invasão, Stalin escrevinhou em resposta: “Pode dizer à sua fonte lá no Quartel-General da Luftwaffe que vá fornicar a mãe dele. Ele não é uma fonte, mas um desinformador”.
Quando o próprio embaixador alemão em Moscovo, Friedrich-Werner von der Schulenburg, que tinha inclinações anti-nazis e tentara, sistematicamente, dissuadir Berlim da invasão, avisou do que estava a preparar-se, Stalin explodiu: “A desinformação agora chegou ao nível dos embaixadores!”.

10. O programa nuclear nazi
Se Hitler tivesse a bomba atómica não teria tido quaisquer escrúpulos em usá-la e o curso da História teria sido outro. Acontece que na década de 1930, a Alemanha era líder na investigação nuclear e foi o próprio nazismo que desbaratou esse capital, ao perseguir os cientistas de origem judaica e ao criar um ambiente repressivo da criatividade e fortemente politizado no meio acadêmico.


O ferry SF Hydro foi metido ao fundo pela resistência norueguesa em Fevereiro de 1944, quando transportava um carregamento de água pesada através do lago Tinnsjo

Muitos cientistas de primeira linha, entre os quais 14 prêmios Nobel da Física e da Química, procuraram refúgio nos EUA e na Grã-Bretanha mal Hitler subiu ao poder, em 1933. Com o estalar da guerra, em 1939, muitos foram chamados a prestar serviço militar pelo que a investigação na área da física ficou seriamente comprometida.

O programa nuclear alemão conseguiu obter urânio enriquecido numa unidade em Oranienburg, mas as tentativas de criar um reator nuclear, em Leipzig, foram abandonadas em 1942, após uma explosão acidental. A outra componente crucial do programa era o fabrico de água pesada (destinada a servir de moderador das reações de fissão nuclear), que estava sedeado na Noruega.
A fábrica Norsk Hydro, em Vemork, começara a produzir água pesada em 1934 e ficara sob controlo alemão aquando da invasão da Noruega em 1940. Os Aliados recorreram a vários meios – bombardeamentos pela RAF, sabotagens pela guerrilha norueguesa e comandos ingleses – para interromper a produção. Os estragos levaram os alemães a desativar a fábrica e a tentar transferir a água pesada para a Alemanha, mas também essa operação foi eficazmente contrariada pela resistência norueguesa.
Porém, investigações posteriores acabaram por revelar que a água pesada produzida pela Norsk Hydro estava muito longe da quantidade necessária para permitir a operação de um reator.

11. O crescente e a suástica


O Grande Mufti de Jerusalém faz a saudação nazi a voluntários bósnios muçulmanos das SS, Novembro de 1943

Haj-Amin al-Husseini, o Grande Mufti de Jerusalém, opunha-se quer ao crescimento do número de judeus na Palestina quer ao jugo britânico sobre 220 milhões de muçulmanos, pelo que não é de estranhar que se tenha convertido num aliado da Alemanha nazi. A instigação, por al-Husseini, de tumultos contra sionistas e britânicos começara antes da guerra e o seu envolvimento, em 1937, na revolta árabe na Palestina, obrigou-o a fugir de Jerusalém, então sob mandato britânico.
Após uma série de peripécias, com passagem pelo Líbano, acabou, por encontrar refúgio em Bagdad, onde emitiu, em Maio de 1941, uma fatwa, apelando a uma guerra santa dos muçulmanos de todo o mundo contra os britânicos. A revolta no Iraque foi rapidamente debelada pelos britânicos, o que forçou al-Husseini a fugir para a Pérsia – foi um refúgio efémero, pois o governo de Reza Pahlevi cortou relações com o Eixo, e só graças a uma operação dos serviços secretos italianos conseguiu escapar.
Na Europa teve encontros com Mussolini, Hitler e outras altas figuras da hierarquia fascista e nazi, com as quais tentou negociar a criação de um grande estado árabe independente no Próximo Oriente e opor-se a que mais judeus se instalassem na Palestina. Em 1943 manifestaria a sua aprovação perante a “solução final” encontrada pela Alemanha para acabar com “a praga que os judeus representam para o mundo”.
A partir do exílio na Alemanha, al-Husseini continuou a sua jihad, instigando revoltas através de emissões radiofónicas, apelando a que os alemães bombardeassem Tel-Aviv e instruindo um comando enviado para a Palestina com a missão de envenenar a água de abastecimento de Tel-Aviv.
Uma das suas ações mais decisivas foi o auxílio à criação de três divisões SS formadas por voluntários muçulmanos, recrutados entre bósnios e albaneses, tendo feito uma tournée pelos Balcãs, incitando os muçulmanos a alistarem-se.
A abertura das SS a bósnios, albaneses, indianos e muitas outras etnias torna-se particularmente irónica quando se considera que, na génese deste corpo, a admissão estava restrita a quem pudesse comprovar uma ascendência ariana pura – no caso dos oficiais, a prova de pureza racial tinha de remontar até 1750.
OBSERVADOR/montedo.com

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